Amazona dedicada Carolina de Arruda Botelho, 32, faz jus a tradição e paixão da família pelo hipismo e, recentemente, após apenas um ano competindo na modalidade Adestramento, conquistou os títulos os Campeonatos Paulista e Brasileiro na série Elementar Amador. Ao mesmo tempo o desafio de voltar a saltar também está em seus planos.
A paixão pelos cavalos já permeia três gerações na família. Seu avô por parte de pai João Ataliba de Arruda Botelho Filho (in memoriam falecido em 1995), foi sócio e cavaleiro de Salto na Sociedade Hípica Paulista.
Já a avó paterna Clarisse Arruda de Botelho, 89, segue frequentando a Hípica com assiduidade, assim como seu pai João Ataliba Arruda Botelho Neto, que já nasceu membro da centenária casa, sua mãe Nicole de Arruda Botelho e irmã Isabella .
Mas os laços com hipismo também vêm por parte dos avós maternos Herman e Bettina Binder que praticavam hipismo no Clube Hípico de Santo Amaro. Foi onde Nicole fez carreira no adestramento com títulos paulistas e brasileiros nas categorias Mirim e Junior.
A tia Claudia, irmã de Nicole, competia com sucesso no Salto e avó Bettina (in memoriam) chegou a saltar, mas fez história com conquistas no hipismo paulista e nacional de adestramento, modalidade em que também atuou como juíza.
Foi em Santo Amaro que João e Nicole Ataliba Arruda Botelho, pais de Carolina e Isabella, se conheceram e começaram a namorar.
“Entre 73 e 78, meu pai chegou a montar em Santo Amaro, onde meu avô também construiu o pavilhão de cocheiras Suiá. Foi onde meus pais se conheceram, minha mãe tinha 15 anos e meu pai, 22, seis anos mais tarde elas casaram”, revela Carolina, que começou a montar na Hípica Paulista aos 7 anos junto com sua irmã Isabella, um ano mais nova.
Cavalos do coração
Mas somente Carolina seguiu em frente, uma vez que sua irmã desenvolveu uma alergia a pêlo de cavalos e cachorros. “Montei dos 7 anos aos 14 anos e depois somente retomei o hipismo aos 20, e desde então não parei mais”, conta a amazona.
“Teve um período em 2012 que eu fazia adestramento com o cavalo Cacau, que nasceu no Haras do meu pai. Eu montava com o Alex (Alexandre Morais Oliveira), que é meu professor até hoje. Mas ele só reclamava do cavalo, falava que não levava jeito para o Adestramento e não queria mais me dar aula com o Cacau…”, lembra Carolina.
“Na verdade eu sempre morria de vontade de saltar, apesar de morrer de medo. Foi quando no início de 2013 fiz uma pequena cirurgia e o meu pai passou o Cacau para o Vitinho (Vitor Dantas Medeiros), que então veio a ser meu professor de salto. Em maio saltei a primeira prova a 0.60 metro de altura. Eu e as crianças…(rs) fui muito legal. Na verdade eu estava super tensa e quem me deu coragem para saltar foi o Cacau. Ele já tinha 14 anos e muita experiência no Salto, foi iniciado pelo Francisco Musa e Renatinho Junqueira também saltou muito com ele. O Vitinho é muito calmo e assim conseguiu me fazer saltar”, conta Carolina.
“Já em 2014 comecei a ter aula com Joana Valente. Chegamos a subir para 1.05 metro e em treino cheguei a saltar 1.30 metro. Assim como o Vitinho, a Joana conseguiu continuar me dando segurança e ela é “tipo” meu professor de adestramento Alex, me cobra muito. Nossa primeira prova fora da Hípica Paulista foi no início de 2016 em Santo Amaro e meu sonho era saltar uma prova no Rio Janeiro. Mas infelizmente não deu tempo. O Cacau estava se recuperando de uma lesão já fazendo trabalho de fisioterapia e praticamente recuperado quando teve uma cólica. Devido a um acidente pós cirúrgico quebrou a tíbia faleceu em agosto do ano passado.” Foi quando por hora os planos nas pistas de salto mais uma vez foram interrompidos.
Chronus Santa Dalila, parceiro no picadeiro de adestramento, entrou na vida de Carolina no final de 2015. Chronus é de propriedade de Eduardo Augusto Mattar, o Duda, seu namorado desde o final de 2014 e que também vem de uma família fortemente ligada ao hipismo. “A família do Duda chegou a ter uma Hípica em Nogueira, na Serra Fluminense. Ele chegou fazer clínica com o Felipe Azevedo e competia em provas a 1.10 metro. Aos 17 anos veio estudar no Largo São Francisco em São Paulo e parou de montar. Em 2008 ele já trabalhava no Pinheiro Guimarães Advogados e também com o Eduardo Spindola. Em um almoço, o Chico Pinheiro Guimarães e Eduardo, sócios da SHP, incentivaram o Duda a voltar a montar e ele fez a Escola aqui na SHP entre 2008 e 2012, depois parou novamente”, conta Carolina.
“O pai do Duda – Eduardo Mansur Mattar (falecido em 2012) – morava em Ribeirão Preto e era dono do Chronus que nasceu no Haras Santa Dalila, nome que homenageia a bisavó do Duda. Uma das três irmãs do Duda montava também e disse que o Chronus era o cavalo que o pai mais gostava. Ele deve estar feliz em ver que o cavalo evoluiu.”
Na época do falecimento de seu pai, Duda seguiu mantendo alguns cavalos, como o Christobal JMen, que foi o potro mais caro em um leilão do Haras Agromen e foi feito pela Beth Assaf, depois foi montado pelo Milton Marcondes. “Hoje o Christobal JMen salta com uma jovem amazona Juliana Salles e fico até pensando que o Duda não precisava ter vendido ele, pois é um craque..! O pai do Duda também teve sociedade no cavalo Loriot do Felipinho Azevedo (medalhista olímpico).
O começo no Adestramento
O Chronus chegou a saltar com o Duto (Ismar Augusto Ribeiro Neto), mas como era muito grande acho que não tinha muito jeito para o salto”, conta Carolina.”Quando foi no fim de 2015 eu falei para trazer o cavalo pra Hípica. Eu tinha visto ele em setembro e na época ainda tinha o Cacau. Mas demos férias no final de 2015 e retomamos em 2016. O Chronus chegou aqui na SHP em 24 de fevereiro de 2016 e era bem cru, não sabia nada. Me lembro que eu também estava aqui na hípica quando ele chegou, o Cacau era vivo e tava fazendo fisioterapia. Meu pai tinha dois potros aqui e ainda o J.A. Orpheu do Carnaval com o qual o Alex foi campeão paulista e brasileiro em 2017. Eu estava sem montar. Infelizmente, o Chronus também teve uma cólica e só voltamos a trabalhar ele em junho de 2016. Ele estava pele e osso.”
Como o Duda estava sem tempo para montar, ele me incentivou a fazer aula de adestramento com o Chronus. “Nem eu nem ele sabíamos fazer adestramento. A gente está aprendendo um com o outro. Trocamos a embocadura e o Alex mudou toda minha montada: descer mais a perna, deixar o corpo mais relaxado. Ele fica naquele fone do ouvido, falando, falando… Tô tentando melhorar! A ideia é que não pare o adestramento”, conta Carolina, sem dúvida, apaixonada pelo adestramento.
Cavalos e o trabalho
Formada em Radio e TV pela FAAP, com vasta experiência em agências de assessoria de imprensa, no início de 2014, Carolina resolveu abrir o próprio negócio. “A rotina na hípica sempre foi muito importante para mim. O meu cavalo estava com um machucado na cernelha e eu tinha que rodar (soltar ele). Eram 8 horas de manhã e o cliente ligou e eu comentei que estava na Hípica. Mais tarde meu chefe falou que eu não poderia ter falado que estava no clube. Mas a verdade é que às 8 da manhã, eu faço o que eu quiser. Esse episódio mexeu comigo, porque o cavalo é muito importante para mim. Eu não ia abrir mão da minha rotina sem necessidade e o chefe brigou comigo porque eu não ia mentir.”
Programei a minha saída e, após 10 anos trabalhando em grandes agências, em 1 de julho 2015, abri a Paddock Comunicação Estratégica que é a minha agência. A Paddock prepara o terreno para o cliente brilhar, assim como no hipismo quando a gente faz o aquecimento para entrar na pista.
Títulos, torcida e um olho nas pistas de Salto
Além dos títulos de campeã paulista e do ranking SHP na categoria Elementar, Carolina faturou o título Brasileiro Amador 2017 no Rio de Janeiro. Também foi campeã do Nacional de Adestramento em junho e vice no Nacional, em outubro, ambos eventos em casa na Hípica Paulista.
Mas como lidar com a torcida da família? “Todo mundo fica feliz quando vou bem. O Alex pede para eu soltar o corpo, mas é difícil com todo mundo olhando. O Duda, minha mãe, meu pai, avó e no Brasileiro no Rio também estava a mãe do Duda, o padrasto, a irmã, sobrinha … (rs).”
Mas mesmo após o sucesso no picadeiro no Adestramento, a volta às pistas de Salto já está encaminhada. Em julho de 2017, Caroline Santa Dalila, égua do salto de 7 anos, chegou na Hípica. “Ela está treinando com a Joana Valente, é super franca e recém estreou no ranking da SHP. A Caroline também era do pai do Duda, meu namorado. Ela é nova e vou ter paciência até começar a saltar com ela. Todos os nomes começam com a letra C pois uma das netas do meu sogro tinha a missão de batizar os cavalos. A Crystal, por exemplo, que ganha tudo com a Flavia Junqueira, sócia da Santo Amaro, também era do pai do Duda.
Muito mais que um esporte
“No dia-a-dia lidamos com a correira, estresse, frustração e, sem dúvida, a relação com os cavalos é uma válvula de escape. A gente cai, levanta e vai frente. Assim com na vida levamos um pé na bunda, perde emprego e depois arruma outro mais incrível”, reflete Carolina.
“Nunca tive um animal de estimação em casa quando eu era criança. O cavalo foi meu primeiro. Se eu pudesse levava para casa, eles são muito sensíveis. É uma conexão incrível. Montar é uma hora do dia em que não penso em nada. Não monto de celular, não há necessidade. Então eu acho que o hipismo promove disciplina, dá alegria, te faz acordar diferente, mexe com seu corpo também. É um esporte muito bonito e traz muita recompensa para a cabeça da gente e se ela não estiver boa nada rola. Sem dúvida, uma injeção de gasolina diária, meus pais montam, meus avós montaram, então o amor pelo hipismo já é de sangue… Me faz muito bem!”
Fonte: SHP – Carola May com fotos cedidas e Luis Ruas