Sir George Morris, lenda viva do hipismo e treinador do Time Brasil, por Suzy Forrest *

10 de março de 2016

Passando esta temporada aqui em Wellington e vivendo o dia a dia do hipismo criei minhas próprias impressões sobre este esporte tão mágico e viciante! O ar aqui cheira à Olimpíada. Cavaleiros, amazonas e treinadores estão traçando seus planos e metas rumo a este novo desafio constantemente avaliando os conjuntos que aqui estão. Acabei de ouvir um narrador ao entrar o primeiro brasileiro na pista – o Marquinhos Ribeiro Jr com Arica – para o GP 1,60 metro comentar que o Brasil veio forte para Wellington preparando-se para a Olimpíada em casa. É o assunto dos bastidores. Este mesmo comentarista mencionou o fato do George estar auxiliando o Brasil .

Nosso recém empossado treinador, Mr. George Morris – tenho vontade de chamá-lo de Sir Morris de tão sério, compenetrado e disciplinado – é uma lenda do hipismo, uma daquelas figuras intrigantes difíceis de desvendar.

George Moriss, treinador top norte-americano, a serviço do Time Brasil de Salto rumo aos Jogos Rio 2016

George Moriss, treinador top norte-americano, a serviço do Time Brasil de Salto rumo aos Jogos Rio 2016; img: Gabriela Lutz / CBH

Sua fama – realmente difícil descrever o quão importante é este homem, a nuvem de respeito e reverência que o cerca é algo impressionante, um verdadeiro ícone deste esporte – é apenas um subproduto da dedicação de uma vida inteira em busca da perfeição fazendo aquilo que mais ama.

Nenhuma pessoa que faz qualquer coisa com tanta dedicação e paixão passaria despercebida. E eu tenho passado algum tempo tentando entender a cabeça que estará por trás de nossa equipe olímpica neste ano de 2016. O que podemos esperar de nosso treinador?

George é austero, focado, obstinado e tem uma disciplina e rotina de militar.

“Uma vez que me envolvo com algo estou 100% comprometido e por isto tenho sucesso. Eu não sou talentoso, nunca tive talento, mas a minha única obsessão na vida é fazer isto da melhor maneira possível”.

George reforça este conceito com bastante frequência: uma ode ao esforço para atingir bons resultados e um estímulo àqueles que tem a vontade, mas não nasceram com o dom. São comuns frases desta natureza: “não tenho talento, mas sou uma enciclopédia de cavalos”. Eu estava lá quando comentou: “não sou talentoso, como o Rodrigo Pessoa, mas entendo profundamente este assunto.”

Mas chegar lá custou caro. George abriu mão de muitas coisas para atingir seu propósito de vida. Segundo ele é uma questão de ambição:

“Trata-se sempre de ambição. Se você se deparar com alguém que tem talento, mas está estagnado, é falta de ambição. Eu era tão ambicioso que abri mão da minha vida para chegar onde cheguei neste esporte. Eu não tinha talento, mas tinha ambição. A pessoa ambiciosa procura um mentor, se oferece para ajudar, acha um caminho.”

Conciliar sua vida pessoal e os cavalos tem sido um desafio permanente já que “tudo se resume aos cavalos”. Se auto define como limitado no que diz respeito a outros assuntos como consertar carro, mexer no microndas, computador, jogar golf, mas reconhece que no mundo dos cavalos é capaz de fazer bastante coisa.  E quanta coisa.. !

É perfeccionista ao extremo : “a prática não leva a perfeição, a prática perfeita leva a perfeição.” É firme, uma firmeza com a qual nós brasileiros não estamos habituados. Mas, fora das pistas é um Lord inglês, sempre está “de bem” e trata todo mundo com extrema educação.

De maneira eufemista diz não ser tão flexível e que pertence a escola antiga: “ou é do meu jeito ou rua” (It’s my way or the highway). Explica que foi criado assim e obteve sucesso sendo deste jeito.

Comenta que competir faz parte, mas não é tudo. Na corrida por vitórias os cavaleiros têm focado em competir e ganhar e esquecido de aprender a montar fato que tem prejudicando muitas vezes também o desenvolvimento adequado dos cavalos. Quando perguntado sobre seus melhores momentos a cavalo descreve dias em que, mesmo ao passo, o cavalo está trabalhado corretamente, encostado no bridão ou fazendo mudanças perfeitas.

A meu ver este esporte requer muita disciplina, organização, foco e concentração. Muito se fala hoje sobre mindfulness (trata-se de um dos meus assuntos corriqueiros) e penso bastante nos cavaleiros e como tem que estar 100% presentes naquele momento, saltando, fazendo as curvas, contando lances. É preciso poder improvisar quando algo dá errado, mas a flexibilidade da mente não significa menos disciplina nos treinos.

Se vamos ou não colher bons resultados, ninguém sabe. Mas aqueles que souberem saborear este vinho maduro e de aroma tão único terão um raro prazer de se deliciar com o mais puro amor de uma vida dedicada aos cavalos e aos seus cavaleiros. É uma honra tê-lo coordenando nossa equipe. E como o próprio George disse, “Marcos I’m here for this country this year, I didn’t get a team I got a country”. E que a paixão de Sir Morris nos contagie e nos encha de esperança para juntos torcermos por nossa equipe olímpica.

*Texto baseado na Revista The Chronicle of The Horse janeiro/fevereiro 2016 adaptado e traduzido por Suzy Forrest.
Suzy é casada com Marcos da Costa Ribeiro Jr, o Marquinhos, cavaleiro top da SHP, habituè em Wellington. Sua aluna e enteada Carolina Chade, a Cacá, integrou equipe Mirim medalha de bronze na Copa das Nações da Juventude, em Wellington.

Suzy com seu marido Marquinhos Ribeiro e a filha Carolina Chade durante a temporada 2016 em Wellington

Suzy com seu marido Marquinhos Ribeiro e a filha Carolina Chade durante a temporada 2016 em Wellington

Mais sobre Suzy Forrest

“Eu nasci já no meio dos cavalos, pois minha mãe montava grávida de mim. Minha avó já montava. Naquela época de vestido e sentada de lado! Eu montei até os 8 anos, parei e retomei bem mais tarde. A paixão é antiga. Minha filha Carolina, a Cacá, já é a quarta geração montando!

Sou formada em administração de empresas pela FGV, mas há 11 anos me dedico a Medicina Tradicional Chinesa: acupuntura, meditação, qigong (iniciei o doutorado recentemente). Dedico a maior parte do meu tempo ao Coaching fundamentado na Medicina Tradicional Chinesa no meu consultório ou com o Dr Jou Eel Jia.”

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