Salvos do abate | Final feliz para um pônei abandonado e a incrível história de Collin, montaria de Chiquinho Azevedo por Suzy Forrest*

11 de janeiro de 2018

Colecionando Histórias… 

Estamos aqui mais uma vez em Wellington, e eu colecionando histórias….

Fomos à Palm Beach Equine Clinic,um hospital veterinário que atende grande parte dos cavalos aqui estabulados. Perdido no meio de tantos cavalos importantes e enormes nos deparamos com um “serzinho” cuja presença quase não notamos. Chamava se Jumanji e não precisou de muito esforço para que se tornasse nosso amigo, amiguinho.

Jumanji era tão pequeno que a capa de frio (está fazendo dois graus na madrugada) sobra em todos os lados, praticamente cobrindo sua cabeça. Ele é pequeno, tem dois dentes inferiores para fora da boca . Os quatro cascos longos, finos e completamente tortos. É quase deformado, mas é, ao mesmo tempo, lindo.

Jumanji no abrigo da Palm Beach Equine Clinic

Eu e Juju entramos na cocheira de Jumanji e ele veio imediatamente ao nosso encontro. Aceita o carinho de Juju e chega a deitar a cabeça na perna dela em sinal de entrega. De tempos em tempos, Jumanji vira e dá uma pequena mordida na Juju. A veterinária me explica que chegou muito bravo e tem algumas reações que são reflexo de tudo o que passou na vida. Ninguém sabe ao certo o que ele passou, mas não deve ter sido pouca coisa.

Juju e seu Jumanji

Jumanji veio da Louisiana, foi encontrado abandonado na rua e resgatado. Durante muitos anos se apresentou num circo da região, mas por algum motivo deixou de ter serventia e descartado como lixo na rua. Resgataram-no das ruas e uma familia o adotou, estava no hospital tratando uma mordida de cachorro.

A motorista que transporta cavalos na região me explicou que os pôneis pequenos, abaixo de determinado peso tem destino certo: comida para os animais do zoológico. Acima do peso, ou seja, pôneis maiores e cavalos de qualquer tamanho são levados para abate no México. Os pôneis perfeitos são usados em exposições e aqueles menos adequados cruelmente abandonados.

Fiquei em choque, repensando coisas que nunca sequer contestamos: zoológicos, exposições e o destino dos animais ao término de sua vida útil.Não preciso nem dizer que Juju se apaixonou pelo Jumanji. O ponei da Juju, Flechinha, morreu a menos de um mês e acho que na fantasia que criou na cabeça o destino de Jumanji seria o Brasil. Quando retornamos pela quarta vez para visitá-lo, Jumanji havia sido retirado, já recuperado, pela sua nova familia.

Seja feliz Jumanji!

Soubemos de 6 poneis que estão para chegar, também da Louisiana. Eles passam por cinco “chances” de resgate antes de serem abatidos. Existem pessoas que monitoram estes “abrigos” na tentativa de evitar este final dramático. Uma senhora da região acabou de resgatar mais seis, estamos ansiosos para ir conhecê-los.

Collin salvo do abate para as pistas internacionais

Neste mesmo dia chegamos ao manège e encontrei o cavaleiro Luiz Francisco de Azevedo, o Chiquinho, trabalhando o seu cavalo. E não sei muito bem porque contei a ele o destino dos pôneis nos EUA, quando me contou uma historia incrível.

Um dia na Bélgica recebeu o telefonema de um amigo, dentista de cavalos, convidando-o para ver um cavalo. Isto faz parte do dia a dia dos cavaleiros que moram lá. Recebem uma dica e vão checar se é algo no qual valha a pena investir.

No meio do caminho resolve tirar mais informações a respeito do cavalo. Tem 7 anos, idade boa, e deveria estar fazendo as provas “baixas” (1,35 )ou de 1,20 se estivesse atrasado. E para a surpresa dele a resposta foi: não, ele nunca havia saltado nada.

Collin SC a postos em Wellington em janeiro de 2018…

“Ai meu Deus” pensou Chiquinho vou perder meu tempo. Mas, por amizade resolveu ir adiante.

Montou o cavalo. Tinha uma condução impossível e controle inexistente. “Por sorte o picadeiro era pequeno, pois eu só conseguia pará-lo de frente para a parede” relata rindo .

O amigo sugere então que dê uns saltinhos. Ah não, assim já é demais, saltar nem pensar. Mas acabou se rendendo ao pedido do amigo.

Nesta hora, pensei “ele saltou e o cavalo era um craque”. Mas não, Chiquinho me conta que desceu do cavalo e disse “este cavalo não dá, dificilmente será competitivo o suficiente para mim e a condução difícil o torna inadequado para um amador”!

Mesmo assim o amigo fez uma proposta e explicou que o cavalo era dele e havia adquirido pelo preço da arroba (sim, da forma que é comprado o gado para abate) já que este seria odestino do mesmo. Pediu que Chiquinho assumisse os custos do cavalo em troca de 50% do mesmo. Foi um explicito não! Mais um pedido do amigo e ele concordou em levar o cavalo para casa e ver se no prazo de duas semanas ele melhoraria.

Durante o prazo estipulado haveria um concurso CSI 2* (provas de 1,50, mas que normalmente oferecem provas mais baixas onde seria uma oportunidade para testar o tal cavalo). Chiquinho levou seus cavalos e aproveitou para levar o seu novo amigo. Chegou lá e a prova mais baixa seria a 1,30,. Algo dentro de Chiquinho o incentivou a fazer o improvável e saltar a prova com o cavalo que havia dado apenas alguns saltos em casa durante a semana. Foi um zero no 1,30 m, um zero no 1,35m no dia seguinte e mais um zero no 1,40 último dia!

Collin e Luiz Francisco de Azevedo, o Chiquinho: uma dupla de grandes conquistas em flash em Wellington 2018

Chiquinho ficou com o cavalo, que hoje é o segundo cavalo dele e chama se Collin. Vem competindo pelo mundo afora com ótimos resultados e nesta temporada é nosso companheiro de manege aqui em Wellington.

Collin é fiel ao seu dono, salta em liberdade seguindo-o como se fosse um cachorro.

Vamos torcer para Chiquinho, para Collin, para o Brasil e para que essa história e a dos pôneis sirva de inspiração para outras incríveis histórias no hipismo.

*Suzy Forrest é casada com Marcos da Costa Ribeiro Jr, o Marquinhos, cavaleiro top da SHP, habituè em Wellington. Suzy é mãe de gêmeos de seu primeiro casamentoCarolina Chade, bem-sucedida amazona,  e Paulo Chade, e da pequena Juju, filha de Marquinhos.

“Eu nasci já no meio dos cavalos, pois minha mãe montava grávida de mim. Minha avó já montava. Naquela época de vestido e sentada de lado! Eu montei até os 8 anos, parei e retomei bem mais tarde. A paixão é antiga. Minha filha Carolina, a Cacá, já é a quarta geração montando!

Sou formada em administração de empresas pela FGV, mas há 11 anos me dedico a Medicina Tradicional Chinesa: acupuntura, meditação, qigong (iniciei o doutorado recentemente). Dedico a maior parte do meu tempo ao Coaching fundamentado na Medicina Tradicional Chinesa no meu consultório ou com o Dr Jou Eel Jia.”

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