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Roberto Luiz Joppert: um campeão nato e eterno representante da SHP
São muitos os cavaleiros que fizeram e fazem a história da Sociedade Hípica Paulista, do hipismo brasileiro e internacional. E, sem dúvida, se tem uma geração de cavaleiros de uma época áurea do nosso Clube Roberto Luiz Joppert é parte dela. Ao lado de outros grandes nomes e amigos como José Roberto Reynoso Fernandez, o saudoso Alfinete, Caio Sérgio de Carvalho, Ricardo Gonçalves, Romeu Ferreira Leite, Sergio Pereira, Carlos Alberto Santos e também Raul Lara Campos, Gianni Samaja, Eduardo Dantas, o Dantinhas, Roberto Luiz Joppert, mais conhecido como Bob, era figura notória.
Falecido precocemente em 2009, aos 62 anos, Bob colecionou títulos nacionais e internacionais e, é claro, muitos amigos. Marcia Joppert, a Nini, que tinha 14 anos quando começou a namorá-lo e seis anos mais tarde selou o casamento por toda uma vida , conversou com o portal da Sociedade Hípica Paulista sobre a carreira esportiva e horseman Bob Joppert. “Nos divertimos muito”, garante Nini, a todo momento.
Desde 2010, a cada edição da Copa São Paulo, a Sociedade Hípica Paulista homenageia Joppert com o Troféu Perpétuo Roberto Luiz Joppert, em que o campeão do GP tem seu nome inscrito. Em 2014, na 43ª edição do evento, haverá dois troféus menores réplicas do Troféu Perpétuo Roberto Luiz Joppert: um para o campeão GP Hyundai e outro do cavalo campeão do GP Hyundai, que ainda leva uma premiação de 20 mil reais oferecida pela família Joppert.
Infância e adolescência
O Bob nasceu nos EUA e depois foi para o Rio, o pai dele era carioca. Depois a família veio para São Paulo e o Bob, por volta dos 8 anos, começou a montar na Sociedade Hípica Paulista com o professor Chiquinho.
O Bob contava que quando o pai dele pôs ele pra montar, tinha pavor. Mas ele insistiu com as aulas do Chiquinho, até que um belo dia Bob resolveu que gostava de montar. Meu sogro comprava cavalos bons, mas não prontos. Então passou muita coisa na mão dele.
Na adolescência, o Alfinete (José Roberto Reynoso Fernandez) e ele costumavam apostar quem seria o primeiro na Hípica e começaram a chegar às quatro da manhã.. rs.. Na segunda-feira aproveitavam para dar uma volta nos cavalos dos outros e ainda ficavam de olho para ver se sobrava um pra eles. Acordavam e iam dormir pensando em cavalos.
Treinamento
O Bob costumava dizer que os cavalos não precisam aprender a saltar, você precisa aprender e ter distância. Mas o animal ou ele é ou não é…
Saltar um dia ou dois por semana e ter o cavalo na mão.
O Galvão, picador, saía montado em um cavalo e puxava os cavalos do Bob para trotar e galopar na raia. Muitas vezes, o Bob vinha montar somente na hora da prova.
Ele era autodidata, tanto que não era estiloso, mas linha dura no treinamento. Teve uma época que ele conversava muito sobre o cavalo com o Orlando Facada (mestre do adestramento), mas não era professor dele, faziam até negócio.
Roberto era um competidor. Ele não entrava na pista pensando que o vale é competir. Ele queria ganhar!
Principais cavalos
Na categoria Junior, os principais cavalos foram Sheriff, Playboy e Soberbo.
Dois de seus principais cavalos na categoria Senior eram da raça Orloff, criação da família Moraes de Barros: o Milk e a Marilyn mais conhecidos. Outro importante cavalo foi o Quiproquó. Esses foram os que chegaram no ápice da carreira dele.
Em 1969/1970, antes do nosso casamento, o Bob foi para Europa com Marylin .Tinha todo um grupo por lá como Helio Pessoa, Lucia Faria, Rita Bezerra de Mello, entre outros, além do Neco, que já estava fazendo carreira por lá.
A Marilyn emagreceu 80 quilos, não se adaptou. As provas eram uma categoria acima. Em Nápolis ela classificou em uma prova para cavalos novos. Mas já não queria nem entrar no trem, meio de transporte dos cavalos na época. Na volta de navio para o Brasil, o Bob passou boa parte do tempo dormindo na cocheira com ela que ficava desesperada longe dele. Enfim, ela era uma dama.
Títulos
Junior
Vice-campeão Paulista 1958 ; Campeão Paulista 1959 ; Campeão Brasileiro 1961
Senior
Campeão Paulista 1964, 1966, 1968, Campeão Brasileiro 1969, 1971, Vice-campeão Brasileiro 1970
Vice-campeão CHI São Paulo 1969, Campeão CHI São Paulo, Campeão CHI Buenos Aires 1972, Bicampeão GP Pão de Açúcar 1973/1974 (Marilyn e Milk), Bicampeão GP CHSA 1973/1974 (Milk e Quiproquó), Campeão GP Sul Americano 1972, 3º lugar Derby de Valencia 1973, Vice-campeão sul-americano 1974, Campeão sul-americano 1975, integrante da equipe 4ª colocada no Pan-americano 1075.
O auge de sua carreira no hipismo foi década 60 e 70. Voltou a montar esporadicamente, mas mais para se divertir.
Premiação especial para o cavalo
Antigamente principalmente na categoria senior, sempre tinha um prêmio para o cavalo de criação nacional campeão. Lá em casa tem muitos prêmios que os cavalos dele ganharam. Havia também um conjunto de provas classificatórias que te levavam até o GP, seja em concursos nacionais ou internacionais, e no Campeonato Brasileiro os quatro melhores iam para o Rodízio.
Muitas vezes o Bob não era campeão do Concurso, mas o cavalo dele levava o título de cavalo nacional campeão. Acho que ter um prêmio de incentivo a criação nacional é muito bom.
Sempre achei que devia ter a valorização do cavalo nacional, mas é lógico que é um conjunto. Mas a gente tem que lembrar que o animal é nobre por fazer o que ele faz, principalmente se a gente considerar que na natureza o cavalo não salta ou faz adestramento.
Aqui na Copa São Paulo 2014, a minha ideia com o Gil Rossetti, em parceria com o Romeu Ferreira Leite, a minha ideia era homenagear o cavalo e criamos o prêmio para o cavalo campeão do GP.
Amor pelos animais
O cavalo e cavaleiro formam uma simbiose quando há respeito. O Bob podia chegar errado com os cavalos e eles faziam de tudo para não fazer a falta. Uma vez a Marilyn refugou e ele bateu nela. Fiquei brava. Chegamos em casa e o Bob estava com remorso. Voltamos pra Hípica e a Marilyn virou de costas pra ele. Eu chamava e ela vinha falar comigo.. rs… Mas acabaram se entendido.
Mas havia muito amor e respeito pelo animal de toda essa geração que conviveu e concursou com o Bob. Os cavalos duravam muito ! Tinham uma carreira mais longa.
Amizades
A gente tinha um grupo muito bom que viaja junto para as provas no circuito nacional Rio, Curitiba, Porto Alegre, Campinas, Belo Horizonte, Brasília de vez em quando, além dos encontros na principais competições em São Paulo. Fazíamos muita farra, era gostoso, saudável e divertido. Mas tinha seriedade. Ninguém saía até as 3 horas da manhã, não se bebia, no máximo nas festas de recepção.
Teve uma época em que o Caio Sérgio de Carvalho e o Bob, que eram muito amigos, tinham um acordo de dividir os prêmios independentemente de quem ganhasse. Torciam muito um pelo outro e às vezes as pessoas ficavam sem entender.
O Felipinho Azevedo, figura rara, era mais novo que o Bob, também viajou muito com a gente. Divertida essa missão de “tomar conta” do Felipe.
Criação de cavalos
Em 1982 fomos morar na Fazenda e começamos a ajudar na criação de cavalos quarto de milha, um projeto do meu pai que criava cavalos para o trabalho dos peões em suas fazendas.
Ele começou trazendo um garanhão dos EUA. Papai não era expert, só gostava mesmo de cavalos. Começamos a fazer uma seleção, comprando éguas boas. Fomos depurando a criação, começando com éguas mestiças e chegamos ao quarto de milha puro. Todos os peões nas fazendas montavam cavalos puros e eram criados soltos. Somente os garanhões tinham aquelas cocheiras abertas meio ao piquete.
Ficou forte a criação, deveria ter havido rodizio maior de garanhões, sabemos nossos erros. Mas papai já estava vendendo as fazendas e quando ele morreu encerramos a criação grande e seguimos com uma criação pequena.
O Bob montava pouco nos quarto de milha, não era o mundo dele. Mas adorava criar e escolhia a dedo os profissionais que trabalhavam com a gente e iam nos representar.
INSS de cavalos
Quando o Bob faleceu havíamos feito um pacto de liquidar os cavalos. Mas tenho o meu INSS de cavalos. Não tive coragem de vender os velhos e eles vão longe, morrem aos 35 anos. Só sacrifico quando eles deitam e não levantam mais.
O Manhattan que foi um dos últimos cavalos do Bob na Hípica Paulista está lá. Mas desde que ele foi para Fazenda ele já tinha um problema de respiração. Quando vai para cocheira ele quase morre com falta de ar. Se deixamos no pasto, ele fica bem.
O Quiproquó também teve sua carreira interrompida por um problema respiratório e seguiu vivendo bem na fazenda.
Herdeiros
Tivemos duas meninas: a Sandra e a Roberta. Só a Sandra, a mais velha, gostava de montar e muito bem, mas somente na Fazenda. Agora eu venho trazendo meu netinho de três anos para Hípica e ele para os cavalos, mas não se interessa. Já uma das minha netas gêmeas, de um ano de meio, quer agarrar os cavalos. A outra faz igual irmão, olha para o lado.
Nossas filhas adoram cachorros, cavalos e outros bichos. É preciso respeitar os animais acima de tudo!
Depoimentos
Caio Sérgio de Carvalho, cavaleiro olímpico, companheiro de equipe e amigo
“Fui muito próximo do Bob a partir dos meus 16 anos, quando ele me passou muitos conhecimentos do Hipismo. Também nesta época, ele corria de Kart, onde se sagrou Campeão Paulista e eu o acompanhava em quase todas as corridas e ajudava no box. Ele sempre foi muito competitivo e praticava bem todos os esportes como futebol, vôlei, tênis e no hipismo não era diferente. Sempre muito determinado, possuía uma enorme habilidade e para mim sua maior virtude era conseguir tirar o máximo das qualidades dos cavalos.
Nos anos de 71/72/73/74 fizemos uma parceria em que tudo que ganhávamos em prêmios era dividido entre nós e muitas pessoas que não sabiam deste acordo, não entendiam porque torcíamos tanto um pelo outro. Juntos fizemos parte de várias equipes e ele sempre teve um espírito de equipe fantástico, procurando ajudar a todos sem distinção. Tive o prazer de participar com ele, do último Campeonato Brasileiro de Senior, que tinha na final o Rodizio, foi em 1971, quando eu tinha 18 anos. Os quatro finalistas eram de São Paulo: Bob Joppert, Bob Kalil, Romeu Ferreira Leite e eu. Bob Joppert como sempre foi impecável, sagrando-se Campeão e eu saí como Vice Campeão, completando nossa inesquecível dobradinha.”
Luiz Felipe de Azevedo, Felipinho, medalhista olímpico e amigo
“O Bob foi um cavaleiro espetacular. Ele, eu, o Alfinete (José Roberto Reynoso Fernandez) e o Romeu Ferreira Leite conquistamos o primeiro título por equipes no Sul-Americano em 1975 e o Bob foi campeão individual. Lembro que em 1972 no Torneio Banco Safra em Santo Amaro ele ganhou os três dias alternando com o Milk e Marylin e eu fui 2º os três dias e acabei campeão.
Mas acima de tudo o Bob era um super amigo. Quando aos 20 anos vim morar sozinho em São Paulo e ainda não existia comida congelada e o Bob sabia da minha condição, então a cada noite, ou o Bob ou Nelsinho Aliperti me convidavam para jantar na casa deles. Eu adorava ele e a mulher dele. Para mim era um ídolo e um amigo excepcional.”
Gil Rossetti, amigo desde a década de 70
“O Bob fez parte de uma geração ouro aqui na Hípica Paulista e no hipismo brasileiro. Ele era um cara verdadeiramente alucinado por cavalo e um esportista de espírito competitivo incrível. Montava e tirava o melhor de qualquer cavalo. Extremamente leal nas competições, não hesitava em transmitir seu conhecimento aos amigos e filhos dos amigos. Ele partiu antes da hora e deixou um exemplo de perseverança, improvisação e conhecimento.”
Coronel Renyldo Ferreira, campeão pan-americano por equipes, cavaleiro de quatro Olimpíadas, treinador e dirigente
“O Roberto LuizJoppert era um cavaleiro para quem a vitória estava acima de tudo e pela qual batalhava de corpo e alma, seja dentro da técnica ou com improviso, vencendo sempre. Era o senhor das distâncias e das abordagens, com qualquer uma de suas montadas, às quais imprimia sua forte vontade, exigindo submissão e cooperação a sua segura condução.”
Antonio Alegria Simões, companheiro de equipe no Pan 1974, e a amazona olímpica Lucia Faria de Simões
Ele era super competitivo, sempre foi uma pessoa muito afável, simpática, bom companheiro. Estávamos sempre juntos em São Paulo e no Rio e tivemos a oportunidade de participar no Pan do México em 1975.
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Fonte: Sociedade Hípica Paulista com fotos acervo pessoal família Joppert