A trajetória de Lilian Mary Whyte: uma vida dedicada ao hipismo e família SHP

06 de novembro de 2017

Lilian Mary Whyte, bem sucedida amazona de longa data e sócia da Sociedade Hípica Paulista há 30 anos, em princípio não revela a idade. “Fui apresentada a rainha Elizabeth quando esteve no Brasil em 1967, isso já dá uma ideia.. “, brinca Lilian, em casa na Hípica Paulista, onde concedeu entrevista e revelou sua trajetória de vida e seu esporte do coração: o hipismo.

Lilian Whyte em registro nobre com a Rainha Elizabeth

“Sou nascida e criada no Rio de Janeiro. Comecei a montar com seis anos na Sociedade Hípica Brasileira. Naquele tempo, íamos a cavalo a praia e também fazíamos passeios até o Corcovado. A Hípica mantinha um platô com 12 baias subindo o morro a caminho do Corcovado para parada técnica com muita mordomia”, lembra Lilian, que aos 15 anos se mudou para os EUA.

“Fiquei boa temporada nos EUA onde fiz High School e depois College (Bachelor of Arts and Science)  e montava somente aos finais de semana. Depois voltei pra São Paulo, por volta dos 28 anos. Enquanto eu estava nos EUA, minha mãe se mudou para São Paulo. Meu pai que era escocês e meio brasileiro faleceu quando eu tinha 12 anos. Já minha mãe era família tradicional brasileira: Maria Rita Monteiro de Barros Roxo Whyte. Devido às possíveis brincadeiras “roxo whyte” que minha mãe costumava ouvir, eu e meu irmão ficamos somente com sobrenome paterno Whyte”, lembra Lilian.

Amor pelo hipismo desde a juventude

“Eu casei tarde, tinha 32 anos. Meu marido Jaime Ronco era inglês de origem espanhola. Conheci ele em um coquetel de trabalho em São Paulo. Uma das filhas dele que naquela época tinha oito anos gostava de cavalos. Um dia a secretaria dele me ligou e disse: dr Jaime pede que leve filha para montar, o motorista pode trazer e levar. Mas eu mesma passei a levá-la e a Juliana começou a me ligar sempre pedindo para montar. A menor Jessica tinha três anos. Com o tempo Jaime levava os papéis para trabalhar e começou a nos acompanhar nos treinos de hipismo”, recorda.

Lilian com seus cavalos e sua enteada Juliana já por volta dos 18 anos na SHP

“Eu montava na Associação Paulista de Medicina e fui a primeira convidada a ser sócia militante. Aí comecei a competir fora. Conheci o Luis Matarazzo, Luis Claudio Campos, Dr. Roberto Rosa Fernandes, Gil Rossetti, cavaleiros sócios da SHP. Eu tinha um cavalo puro sangue que eu comprei no Jockey: o Didon. Nós íamos ao Regimento 9 de Julho, Clube Hípico de Santo Amaro e Clube de Campo São Paulo. Eles chegavam com cavalos maravilhosos e eu com meu puro sangue rápido, limpo. Sou piloto, me transformo, chegava na hora do desempate bye bye… e eu vencia”, orgulhosa-se a amazona, que ainda segue em atividade nas pistas e trabalha fazendo coaching e professora de inglês comercial.

Saltos perfeitos e duradouros

“Um dia em uma competição no Regimento 9 de julho em 1987 e já namorando o Jaime, o Dr Roberto Rosa Fernandes  e o Dr. Luiz Matarazzo nos convidaram para nos associarmos à SHP com o seguinte argumento: “estamos cansados de perder para Lilian, assim ela passa para nossa equipe”. Jaime concordou. Na época eu já era sócia do Harmonia, sempre fomos. Meu irmão jogava tênis, eramos os dois irmãos competitivos mas cada um no seu esporte”, discorre Lilian.

Jaime Ronco sempre atento acompanhando as competições de hipismo da esposa

“O meu puro sangue Didon veio para Hípica junto comigo. Aí o Dr Eduardo Dantas, tio do Renato Dantas, recomendou: o seu treinador vai ser o mesmo que o  meu: o Ricardo do Carmo Souza, o Rica, que era considerado o picador mais eficiente do clube. A coisa não parou por aí e o Rica falou: dr. Jaime temos que ter no mínimo três cavalos. Quem tem um não tem nenhum, com dois as chances são melhores, com três sempre temos um na reserva. Foi quando comecei realmente a levar o meu hipismo a sério. Eu já tinha quase 40 anos e sempre montei brincando. Fui especialista a 1 e 1.10 metro. Mas meus dois títulos de campeã brasileira foram a 1 metro. Fui várias vezes campeã paulista e brasileira por equipes ao lado do André Moron, Ronaldo Milan, Miguel Buelta, entre outros.”

Em andanças nos Concursos Nacionais já no ano 2000

Lilian com seu treinador e amigo Rica

“Meu marido não era um homem do cavalo, mas ele jogava tênis e nós tínhamos uma lancha Britania. Tínhamos um acordo que de dezembro a março íamos ao litoral com ele e as meninas que moravam com ele. Hoje vivem na Inglaterra e me chamam de mãe Li. Tirei até carteira Arraes (permissão para navegar). Aprendi muito sobre os ventos, mar e navegação. Mas ele também me acompanhava no hipismo e fazia fotos e vídeos. Quando eu não ganhava ele costumava brincar: “Lilian f… you didn´t do right.. I pay the bill “. Ele queria resultado e quando chegava perto dos cavalos brincava, fazia festa e falava ou ganha ou vai para rua. Os cavalos pareciam entender que ele era o chefe”, recorda Lilian.

Lilian e Kiss da Britânia em ação na SHP,  sua casa  desde 1987

“Em 1996, aos 50 anos, fiquei viúva. Eu era muito feliz com meu marido e os cavalos me deram força.
A hípica tornou-se minha família, os sócios que conheceram o Jaime, os funcionários, tratadores me apoiaram. Isso até hoje. Então eu sou muito grata aos funcionários e sócios amigos da minha geração”, garante a amazona inveterada, porém não imbatível em sua categoria. “Salvo uma única vez, nunca consegui ganhar do Luis Matarazzo”, admite Lilian.

Lilian recebendo prêmio das mãos da amiga Marina Caldeira em Santo Amaro

“O hipismo é um esporte que prende muito, alto custo. Hoje para ter meu cavalo eu me privo, gasto menos em roupa, viagens e outros luxos.  É mais fácil comprar algo para o meu cavalo do que para mim. O hipismo é uma grande família, todos se conhecem. Tratadores mais velhos dizem: você ainda não tá montando, que beleza.. Só tenho a agradecer.”

Pódio sempre ao lado dos amigos de longa data

Mas nada se alcança só. “Eu tive os bons resultados no hipismo porque eu tinha uma equipe. Os veterinários Sheila Largman e Rogério Passos, meu tratador José Paulo (in memoriam) que desde o primeiro dia que entrei na Hípica. Hoje monto com o Vitinho Medeiros e meu tratador é o Magrão, muito bons e dedicados”, afirma Lilian, que revelou parte de sua receita de sucesso nas pistas.

“Ganhar é ótimo, mas nosso objetivo tem que ser sempre classificar entre os seis primeiros. Por isso é que eu consegui uma pontuação de mais 1000 pontos com dois cavalos: com a Pitanga da Britânia em 2002 e 2004 com o Kiss da Britânia. ”

Mais um flash dentro de casa na SHP

Lilian também tem uma recordação especial de um Campeonato Brasileiro na Sociedade Hípica de Campinas, local que era a fazenda do seu avô George Sim Whyte. Estávamos lá o Rica, eu, André e Bia Moron, Ronaldo Milan e eles disseram: o seu avô hoje vai te ajudar. O primeiro dia zerado, segundo zerado.. e no terceiro dia eles olharam para mim: você ganhou o campeonato. Ele está ali em cima segurando os obstáculos para você. Ganhei. Eu chorava e as pessoas não entendiam porque.. Mas essa era a razão”, lembra Lilian, que hoje tem parceiro mais que especial nas pistas.

Rotina de pódios

“Minha atual montaria é o anglo árabe Prince da Britânia, que leva o apelido carinhoso de Robinho, de 18 anos. Comprei por sugestão do dr Rogerio aos cinco anos. Mas queria deixar claro que não fui eu que botei esse nome. Cheguei a vender ele e depois ele voltou para mim….  são 12 anos juntos. Em princípio quando o adquiri era para fazer trinca com os meus craques Kiss e Pitanga. O Prince deu voltas por aí e depois passou a ser da Julinha Miguel. Muitas vezes a mãe dela Gabi pedia para dar uma cordinha e a Julia entrava na prova e assunto resolvido. Ela cresceu e precisou de outro cavalo. Aí a Gabi disse ou ele vai para fazenda ou você fica com ele de novo. Aceitei e, chorando, abracei ele.”

Sempre em forma Lilian  com Prince da Britania, o “Robinho” ; campeã série 0.80 metro na 12ª Etapa do Ranking SHP 2017

Atuação no Conselho da SHP

“O Ricardo Gonçalves quando presidente me convidou para ser diretora secretaria. Depois também fui diretora secretaria em gestões do Renato Dantas, Carlos Loureiro, esses senhores me preparam para ir para o Conselho. Agora estou em meu quarto mandato como conselheira, então já são 16 anos. A mulher que tem um mandato a mais que eu é nossa Tarsila do Amaral. Sempre faço campanha para aumentar a participação feminina no Conselho”, conta Lilian, que também falou sobre o papel Conselho.

Lilian com Romeu Ferreira Leite Jr à esquerda, Ricardo Gonçalves e Tinho Azambuja em noite de premiação nos anos 90

“A função do Conselho é manter um diálogo aberto com a diretoria, cabe ao presidente e vice ter um contato bem próximo com o presidente da diretoria e trocar ideias. Já o presidente do Conselho conversa com os conselheiros sobre diversas propostas antes até de virem ao plenário sempre buscando consenso.”

Mensagem para os amantes do esporte

“O hipismo é um esporte que exige muita dedicação, você vai de extrema felicidade a extrema tristeza. O cavalo fez a falta, porque fez a falta. Normalmente a culpa é nossa. Os resultados dependem de um conjunto de fatores: dia, hora, o seu bioritmo e o do cavalo, condições climáticas, vento, calor, chuva, o estado psicológico nosso e do cavalo também têm grande influência, além do fator sorte. Uma palavra que resume tudo é “feeling”. Eu sento no cavalo, ao andar até a pista já começo a ter um “feeling! como ele está: se está bem, cansado, deprimido, arrisco. Penso que isso é algo inato, nasce com a gente. Eu diria que a equitação é um esporte de sentimento, dedicação e dá uma grande mensagem para vida: você nem sempre ganha e tem que aprender a perder, mas com honra e classe.”

 

Fonte: SHP – C. May com fotos cedidas

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