Ao longo de duas semanas, de 31/1 a 4/2 e 7 a 11/2, a Sociedade Hípica Paulista promoveu o 1º Curso de Cavalariços em parceria com a Universidade do Cavalo, ministrado por Aluísio Marins e Claudia Leschonski, em estreita parceria e idealizado por Nathalia Clemente Frias, gerente de Vila Hípica e Tarsia Jarcovis, frente ao departamento de RH, com todo apoio e aval da diretoria do clube, presidida por Fernando Sampaio Ferreira Filho.
Participaram do curso 50 cavalariços, reunindo novatos e mais experientes. “A adesão dos tratadores mais novos foi maior, acredito que pela busca do conhecimento e menor experiência. Mas ainda assim, tivemos a participação de alguns tratadores experientes que saíram bastante satisfeitos e reconheceram que a troca de experiência e conhecimento foi muito rica, como conhecer novos “truques” e diferentes formas de fazer atividades rotineiras de maneira mais rápida e simples”, aponta Natalia.
Basicamente foram seis os módulos do curso: bem-estar e importância do manejo, limpeza de materiais, limpeza dos cavalos (escovação, limpeza de cascos, bolsa e manejo de crina e cauda), noções de primeiros socorros reconhecendo os primeiros sintomas de cólica, tipos de embocadura e utilização, boas práticas e segurança do trabalho.
“Sempre acreditei que o conhecimento é o alicerce para o desenvolvimento de qualquer atividade. Passamos por uma fase de grande evasão de cavalariços na SHP e nos deparamos com o desafio enorme de reposição de uma mão de obra específica, pouco disponível no mercado. A Tarsia e eu, reconhecendo a importância e relevância da SHP para o mercado hípico, pensamos que tornar a SHP formadora de cavalariços e, desta forma, o curso foi ganhando vida”, explica Nathalia.
Claudia Leschonski, veterinária e parte do corpo docente da Universidade do Cavalo desde sua fundação em 1997, não poupou elogios à iniciativa. “Foi muito legal, muito bacana. Fiquei impressionada com várias pessoas nas variadas pontas em prol da mesma coisa que é o bem-estar dos cavalos e oferecer algo diferenciado aqui na Sociedade Hípica Paulista. Senti que os tratadores, que aqui chamam de cavalariços, curtiram a oportunidade de aprendizado. Mas é muito mais reciclagem que treinamento e, dentro disso, bem mais motivacional do que técnico”, coloca Claudia.
“Como vou ensinar um tratador de 30 anos de casa a limpar uma baia e escovar um cavalo? Ele é que tem que me ensinar. Para mim, foi muito mais de olhar nos olhos e dizer: “cara” vocês têm valor, a SHP dá valor a vocês, esse negócio aqui não funcionaria sem vocês”, acrescenta a experiente veterinária, treinadora e professora.
“Eu acho que a sacada mesmo é eles se ajudarem e formarem uns aos outros, porque a demanda inicial que veio para nós é que muitos não tinham experiência com cavalos. E mesmo que fosse o curso mais perfeito do mundo: seriam só cinco dias. A gente entra, fica cinco dias e vai embora. Então a pegada do curso é motivá-los e enfatizar a ideia de aqueles com mais tempo de casa ensinem os mais novos. Essa, às vezes, também é uma forma de filtrar a pessoa que não tem tanta vocação para mexer com isso”, coloca a palestrante.
“A responsabilidade com o bem-estar dos cavalos não é só da gerência e diretoria, mas uma coisa fluída entre todo mundo. Eu fiquei muito impressionada com a integração entre a gerência e os cavalariços e, é claro, que se isso se deu com aval da diretoria”, acrescenta Claudia.
“Estou na Universidade do Cavalo desde o começo. O curso de tratadores foi um dos primeiros lá, porque o lugar surgiu para formação e aperfeiçoamento de mão de obra. Sou veterinária, mas meu caminho foi mais trabalhar com cavalos saudáveis e prevenção atuando como misto de gerente, veterinária, instrutora de equitação e treinadora de cavalos. Sou formada em veterinária há 36 anos, mexo com cavalos cinco anos a mais e louca por cavalos há 55 anos desde criancinha”, revela Claudia, ressaltando ainda que, antes de mais, é preciso ter vocação. “Ou o profissional é muito vocacionado ou prefere trabalhar de 2ª a 6ª feira. Quem não gosta de cavalo não fica.”
Aluísio Marins, veterinário e fundador da Universidade do Cavalo, também emprestou sua experiência ao curso e ressaltou a importância da iniciativa. “Eu acho que programas como esse que fomentam conhecimento são sempre válidos. Encontramos aqui tratadores com 30 anos de hípica, outros com dois dias de clube que nunca tinham mexido com cavalo. Essa troca levando para um bem comum que é a melhoria da qualidade de vida de um cavalo é muito benéfica. É óbvio que sabemos que tem tratador aqui que às vezes não precisa do conteúdo ou de parte dele que passamos. Mas ele também aprendeu e ajudou a ensinar. Toda troca de conhecimento que converge e beneficia o cavalo é válida”, resume Aluísio.
“Eu acho que mais importante que, por exemplo, ensinar a escovar um cavalo, é inspirar as pessoas a entenderem que escovar um cavalo faz bem para o cavalo. Não é só para atender a um cliente, um patrão e um proprietário”, ressalta o titular da Universidade do Cavalo.
“A gente vem fazendo muitos cursos em haras e pequenos manegès, escolas e hípica do interior, tanto como nossa equipe indo ao local ou eles vindo até a Universidade do Cavalo para programas de reciclagem”, explica Aluísio, que também está à frente do Curso Superior de Gestão em Equinocultura e do Programa de Certificação de Treinadores na Universidade do Cavalo.
“Um clube como a Sociedade Hípica Paulista, referência e nº 1 na América de Sul e conhecido no mundo todo, se preocupar com formação e atualização de cavalariços também arrasta essa responsabilidade para os outros”, avalia Aluísio. “Muitos que conhecemos aqui talvez não precisariam estar mais trabalhando. Porém estão aqui por amor cavalo, por uma causa maior: eu acho que essa é a grande fonte de inspiração para todos nós”, enfatiza o horseman.
“Eu tenho que agradecer a Tarsia, a Nathalia, ao presidente do clube Fernando Ferreira, todos que participaram sabem que não é fácil. Quero dizer que não acaba aqui, estamos super à disposição e, claro, não dependam de um programa contratado para resolver as coisas. Muito obrigado e parabéns para esse clube. Foi motivo de muito orgulho para nós poder estar aqui nessas duas semanas.”
Para Tarsia Jarcovis que vem atuando com afinco no departamento RH do clube há dois anos e agora também frente ao departamento de eventos, representando a diretoria nas diversas áreas, o curso foi muito especial. “Elaboramos esse projeto com muito amor. Reconhecer e investir em nossos cavalariços tem sido transformador. A troca de experiências é uma fonte de inspiração para os novos funcionários que ingressam nessa profissão, que representa o coração do nosso segmento”, resumiu Tarsia.
Para Nathalia, gerente da Vila Hípica, o comprometimento dos cavalariços faz a diferença. “É sempre importante termos colaboradores engajados em realizar suas atividades. Quando falamos em cavalo e cavalariços, temos a certeza que é um trabalho que passa sempre por grandes mudanças, tanto pelas alterações de regras nas modalidades como pela disponibilidade de materiais e tratamentos mais modernos e até mesmo pela exigência de cada um dos proprietários”, analisa Nathalia.
“Se manter atento e atualizado propicia não somente desenvolvimento profissional de cada um deles, mas também melhores resultados em competições e melhor qualidade de vida para os animais, que é exatamente o que o mercado equestre busca hoje”, acrescenta a veterinária. “Assim como em tantas outras áreas, a profissão de cavalariços busca cada vez mais por aqueles que têm algum diferencial e a formação teórico/prática representa o início desse desenvolvimento”, complementa Nathalia.
“Estamos em um local que é referência dos esportes hípicos que concentra os melhores cavalariços do Brasil. Posso somente agradecer a todos que participaram e aceitaram caminhar junto com a Universidade do Cavalo para entregar cada vez mais excelência em seus serviços. Agradeço ainda pela oportunidade de aprendizado que a cada um deles me proporcionou, porque sim, aprendo e aprendi muito com todos durante os 10 dias de formação”, garante a veterinária.
“A ideia é que tenhamos outros cursos, mas ainda não temos datas ou temas específicos. O que temos, a pedido dos próprios cavalariços, é o curso de Enfermagem Veterinária. Quero ainda dizer que para muitos esse foi o ponta pé inicial, mas que continuem buscando o crescimento por meio do estudo e contem com toda a equipe da SHP nessa caminhada”, finaliza a gerente, em nome do clube.
Fonte e fotos: SHP